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| Durante o período em que Nuno Freitas esteve na presidência da CP, este era o aspeto habitual das automotoras, onde a empresa terá eliminado os grafitis em 99,5% do seu material circulante, em 2022. |
A Linha do Vouga e o seu comboio, carinhosamente apelidado de "Vouguinha", é muito mais do que um simples trajeto ferroviário de via métrica no distrito de Aveiro; é um património histórico e um elo de coesão territorial.
No entanto, ao longo dos anos, este símbolo de resistência e história tem enfrentado uma ameaça que muitos ativistas, entusiastas e até alguns meios de comunicação social têm classificado como o "cancro dos grafitis".
A Degradação Visual e Estrutural
O termo "cancro dos grafitis" é naturalmente uma metáfora dramática que ilustra a proliferação descontrolada e o impacto negativo da pintura não autorizada nos comboios, estações e demais infraestruturas ferroviárias em Portugal, com especial incidência na Linha do Vouga. Esta situação, que se agravou consideravelmente nos últimos anos, transcende a mera questão estética, atingindo aspetos cruciais:
* Vandalismo de Material Circulante: As automotoras, já antigas e em necessidade de modernização, são frequentemente alvo de pintura ilegal de alto a baixo. Isto inclui o exterior, afetando até as janelas e vidros e, em alguns casos, o próprio interior;
* Degradação das Estações: As estações e apeadeiros ao longo da linha também não escapam, com as paredes e edifícios a serem desfigurados, contribuindo para um cenário desolador e de abandono.
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| Este é o aspeto atual das automotoras UDD 9630 que fazem o serviço comercial de passageiros. Nota: para evitar a promoção do vandalismo, os grafitis da imagem foram alterados por IA. |
Consequências para a Linha e para a Comunidade
O problema dos grafitis na Linha do Vouga não é apenas um incómodo visual; tem consequências graves que ameaçam a própria sobrevivência e a dignidade do serviço:
* Afugentamento de Passageiros: O mau aspeto e a degradação visível dos comboios e estações afastam potenciais passageiros. Ninguém deseja viajar num meio de transporte que transmite uma imagem de vandalismo e desleixo, o que prejudica a luta pela manutenção e revitalização da linha;
* Custos Acrescidos: A limpeza destas pinturas acarreta despesas avultadas para as empresas gestoras (como a CP - Comboios de Portugal e a Infraestruturas de Portugal), retirando recursos que poderiam ser aplicados na manutenção e modernização, tanto do material circulante como da via férrea, que já é uma necessidade gritante;
* Risco para a Imagem e Futuro: Para movimentos cívicos e defensores da Linha do Vouga, o vandalismo representa um risco real de encerramento do serviço de passageiros. A degradação contínua pode ser usada como argumento para desinvestimento e, em última instância, para a desativação da linha, algo que já aconteceu parcialmente (por exemplo, com o corte entre Sernada do Vouga e Oliveira de Azeméis, substituído por táxis em 2013).
O Apelo Cívico e a Necessidade de Ação
Perante este cenário, o Movimento Cívico pela Linha do Vouga (MCLV) e outras entidades têm lançado apelos veementes às autoridades e empresas responsáveis. A exigência é de "mão mais pesada" no controlo e fiscalização deste património, que é de toda a comunidade.
O desafio está em encontrar um equilíbrio entre a liberdade da expressão artística urbana e a preservação do património público. O vandalismo, que é a aplicação não autorizada de grafitis em propriedade alheia, é ilegal e destrói o que é de todos.
É urgente que as empresas e as câmaras municipais servidas pela linha colaborem no sentido de:
* Reforçar a vigilância nas estações e nos locais onde o material circulante pernoita;
* Promover a limpeza e manutenção de forma mais célere;
* Sensibilizar a população para a importância da Linha do Vouga como um bem cultural e de transporte.
O "Vouguinha" é um testemunho de resistência, mas a sua história não pode ser manchada e comprometida pela ação destrutiva do "cancro dos grafitis". A propósito desta temática, no seu mais recente episódio, o podcast "Sobre Carris" faz manchete precisamente com o "Turismo de Grafitagem" que tem assolado o nosso país. Oiça aqui:


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